Estamos numa era em que a aparência é fundamental. E não digo apenas sobre a aparência física. É de forma geral. "Manter as aparências" tornou-se quase uma obrigação, uma necessidade. E isso tem escravizado muita gente, que não se dá conta de que, para satisfazer o ego de uma "sociedade do espetáculo", muitas vezes abre mão da felicidade.
Ser autêntico virou um desafio. Ser o que realmente se é, nem sempre é bem visto. Temos que mostrar que somos todos os dias, vinte e quatro horas, felizes, amados, alegres. Não se pode mais desnudar a alma. Isso é coisa de gente fraca, infeliz. O que se tem feito é desnudar a vida. E as redes sociais só fizeram colaborar para isso. As pessoas não podem falar do que sentem. Mas elas devem mostrar que comem as melhores comidas, que fazem as melhores viagens, que têm muitos e confiáveis amigos, que mantêm relacionamentos perfeitos. Que a família é igual as de propaganda de margarina, que nunca adoecem ou sentem dores, que são politizadas, que não têm preconceito, enfim, sociedade de aparências.
E nessa "brincadeira", de ser o que não se é, de mostrar o que não é verdade, muitos internamente gritam por socorro, pedem ajuda, mas em silêncio e com um sorriso no rosto. E com um copo de algum drink nas mãos. E enquanto isso, muitas almas dilaceradas sofrem sozinhas, pedir ajuda tornou-se vergonhoso. Não se pode demonstrar fraqueza, tristeza, não se pode admitir que somos seres humanos e temos um coração que não é de ferro.
Eu senti vontade de escrever isso, depois da morte do Chorão, do Charlie Brown Jr. Eu gostava da banda, das letras das músicas. Acho as letras das músicas inteligentes e fiquei muito triste com a morte precoce do cantor. E se parar para pensar, Chorão cantava e exatamente aquilo que não vivia. Ele dizia que suas músicas retratavam a história de sua vida. Mas não parece verdade. Ele cantava letras que incitavam ânimo, coragem para os "fracos e oprimidos", positividade na vida. E na verdade, chegava em casa e se drogava, tomava remédios, bebia, sentia-se só, infeliz. Ele também estava contaminado peça "sociedade do espetáculo". Talvez por isso nunca admitiu publicamente essa sua realidade. Talvez por isso não encontrou mais força e incentivo para largar as drogas. Talvez poucos soubesse que ele desejava toda positividade, mas vivia uma vida de total negatividade. O manter as aparências pode levar muita gente para o buraco. Não têm coragem de admitir suas fraquezas, pois a sociedade não veria com bons olhos. E o âmbito da vida privada que tem se tornado cada dia mais pública, não permite pessoas demonstrarem o que são, mas exige uma exposição daquilo que se espera ver. E de espetáculo em espetáculo, de aparência falsas e hipocrisias, muitos vão se perder pelo caminho sem ter tempo (ou direito) de pedir ajuda. Lamentável.
Bjs,
Fê :(