domingo, 10 de março de 2013

Sociedade do espetáculo...


                                                      


Estamos numa era em que a aparência é fundamental. E não digo apenas sobre a aparência física. É de forma geral. "Manter as aparências" tornou-se quase uma obrigação, uma necessidade. E isso tem escravizado muita gente, que não se dá conta de que, para satisfazer o ego de uma "sociedade do espetáculo", muitas vezes abre mão da felicidade.
Ser autêntico virou um desafio. Ser o que realmente se é, nem sempre é bem visto. Temos que mostrar que somos todos os dias, vinte e quatro horas, felizes, amados, alegres. Não se pode mais desnudar a alma. Isso é coisa de gente fraca, infeliz. O que se tem feito é desnudar a vida. E as redes sociais só fizeram colaborar para isso. As pessoas não podem falar do que sentem. Mas elas devem mostrar que comem as melhores comidas, que fazem as melhores viagens, que têm muitos e confiáveis amigos, que mantêm relacionamentos perfeitos. Que a família é igual as de propaganda de margarina, que nunca adoecem ou sentem dores, que são politizadas, que não têm preconceito, enfim, sociedade de aparências.
E nessa "brincadeira", de ser o que não se é, de mostrar o que não é verdade, muitos internamente gritam por socorro, pedem ajuda, mas em silêncio e com um sorriso no rosto. E com um copo de algum drink nas mãos. E enquanto isso, muitas almas dilaceradas sofrem sozinhas, pedir ajuda tornou-se vergonhoso. Não se pode demonstrar fraqueza, tristeza, não se pode admitir que somos seres humanos e temos um coração que não é de ferro.
Eu senti vontade de escrever isso, depois da morte do Chorão, do Charlie Brown Jr. Eu gostava da banda, das letras das músicas. Acho as letras das músicas inteligentes e fiquei muito triste com a morte precoce do cantor. E se parar para pensar, Chorão cantava e exatamente aquilo que não vivia. Ele dizia que suas músicas retratavam a história de sua vida. Mas não parece verdade. Ele cantava letras que incitavam ânimo, coragem para os "fracos e oprimidos", positividade na vida. E na verdade, chegava em casa e se drogava, tomava remédios, bebia, sentia-se só, infeliz. Ele também estava contaminado peça "sociedade do espetáculo". Talvez por isso nunca admitiu publicamente essa sua realidade. Talvez por isso não encontrou mais força e incentivo para largar as drogas. Talvez poucos soubesse que ele desejava toda positividade, mas vivia uma vida de total negatividade. O manter as aparências pode levar muita gente para o buraco. Não têm coragem de admitir suas fraquezas, pois a sociedade não veria com bons olhos. E o âmbito da vida privada que tem se tornado cada dia mais pública, não permite pessoas demonstrarem o que são, mas exige uma exposição daquilo que se espera ver. E de espetáculo em espetáculo, de aparência falsas e hipocrisias, muitos vão se perder pelo caminho sem ter tempo (ou direito) de pedir ajuda. Lamentável.

Bjs, 

Fê  :(

4 comentários:

  1. Boa tarde, Fernanda. Muito bom o seu texto!
    Vivemos em uma sociedade hpócrita e preconceituosa, conceitos que abomino.
    Acredito, que devemos ser nós mesmos, expor as nossas virtude e defeitos, ninguém carrega consigo a marca da perfeição, somente Deus, a questão é que é mais fácil julgar os outros do que a si mesmo e com isso vivemos na maioria das vezes como personagens felizes e do bem, esquecendo que a vida não é assim, que ninguém é assim.
    Quando escrevemos, compomos uma letra de música, talvez, era o que gostaríamos de viver, mas que não temos força para quebrar a realidade nociva do presente momento.
    Já cheguei à conclusão que esse modelo de sociedade permanecerá assim, o que podemos é lutar para não sermos preconceituosos, tampouco hipócritas, sermos autênticos o máximo que pudermos. No que não der, pelo menos que não criemos personagens, apenas nos calemos certas horas, a fim de evitar um mal pior, se a situação pedir!
    Parabéns pelo belíssimo texto!
    Tenha uma semana de paz!
    Beijos na alma!

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  2. Muito obrigada Patrícia. Concordo com tudo o que você disse! E mais: eu penso que as pessoas que colocaram a "viseira" e seguem as regras ditadas por essa socieade que dita modelos e ritos a serem seguidos, não são, de fato, felizes. Pois como você mesma disse, ninguém pode ser feliz na pela de uma personagem... a autenticidade traz leveza... e a vida já é bastante árdua para carregasrmos o fardo da NECESSIDADE DE PARECERMOS eternamente felizes e felizes com os padrões estabelecidos.
    Bjs e volte sempre que quiser!

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  3. Oi, Fernanda!

    Tudo bem?

    Fernanda, estou elaborando um material e, pesquisando a respeito de imagens de palhaços tristes, o Google Imagens acabou me direcionando para o seu blogue.

    Não resisti à leitura do seu último texto (que, não por coincidência, está ilustrado pela imagem do tal palhaço que tanto chamou minha atenção) e resolvi parar dois minutinhos a fim de parabenizá-la pelo registro.

    Identifico-me com o seu pensamento e, talvez por essas coincidências que não existem (será que Jung estava certo sobre o "inconsciente coletivo"? Rs), peguei-me pensando justamente a respeito desse assunto (falecimento do Chorão) na última semana. Não posso lhe dizer que era fã do trabalho dele, porque pouco o conheci, mas, por esses dias, recebi alguns e-mails do meu namorado, nos quais ele compartilhava as letras de algumas das suas canções favoritas, compostas pelo Chorão. E, lendo alguns versos, sobressaiu-me a beleza de algumas passagens, o otimismo com que ele parecia encarar a Vida. Tanto que, conversando com o meu namorado acerca disso, cheguei a comentar que uma das músicas lembrou-me outra que é minha prediletíssima - "Veja", do Raul Seixas. Porém, refletindo sobre as composições e a maneira como esse artista realmente vivia (segundo alguns noticiários que acompanhei rapidamente), pensei nele como um "fingidor", feito aquele mencionado por Fernando Pessoa, com a diferença de que o "Chorão" (apelido "sugestivo", não?) não "fingia" a dor, o "choro", mas, sim, a alegria que ele não detinha em si mesmo...

    Lendo as suas palavras, Fernanda, pensei no quanto transformamos a nossa sociedade num palco em que "os fracos não têm vez". Somos levados a crer que a nossa "vulnerabilidade" é uma demonstração de fraqueza, quando, na verdade, conforme já registrou um dos meus autores prediletos, ela é a coisa mais humana que temos a oferecer uns aos outros.

    Parabéns e continue escrevendo!

    Iara Mola

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  4. Olá Iara, muito obrigada pelo elogio ao texto! Eu escrevi pensando justamente nisso, como muitas pessoas devem fingir uma vida que não vivem pelo fato de se sentirem pressionadas por essa sociedade que não permite "fraquezas", fragilidades e etc. A morte do Chorão me fez pensar acerca disso, pois como vimos, ele escrevia e aparentava uma coisa que não era. De repente, para não mostrar suas fragilidades, ele se deixou consumir aos poucos, sem pedir ajuda, sem "dar o braço a torcer". E muitas pessoas devem levar "fardos" sem se sentirem no direito de pedirem socorro...
    Ah, só para constar, eu acredito sim, na psicologia junguiana... E coisas que só Capra explicam! kkkkkk
    Bjs e volte sempre que quiser!

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